segunda-feira, agosto 08, 2011

Explicando umas coisas, escondendo outras...

Ufa, até que enfim, um tempo!

Caso você aí não saiba, estou fazendo meu mapeamento geológico de graudação, em Diamantina. Cheguei aqui dia 24 de junho, e só sairei dia 18 de agosoto. Isso quer dizer que eu estou, literalmente, fora da realidade, no meio do mato. Aliás, se você procurar por "TG EM DIAMANTINA" no youtube, terá uma pequena noção do que é que se trata o meu trabalho de campo...

Essa vinda para Diamantina tem sido boa, porque me retirou de um cotidiano meio chato lá de BH, que era o de correr atrás de umas coisas que eu realmente não tenho muito como correr atrás. Enfim, bola pra frente.

BH continua tendo seus eventos de RPG, rolando da melhor maneira possível. Em julho, houve um evento no Parque Municipal, coisa do tipo pique-nique mesmo, com muita gente se divertindo e alguns insatisfeitos. Acho ótimo ter pessoas insatisfeitas nos eventos: é sinal de que há coisas a se fazer para melhorar a treta toda... claro, só adianta se os insatisfeitos tiverem o interesse em ajudar a melhorar, nem que seja sugerindo mudanças. Saber conversar também é fundamental...

Voltarei a BH daqui a duas semanas, estou com saudades da família, da namorada, dos amigos... da civilização como um todo - ou nem tanto. Viver no meio do mato tem lá as suas vantagens...

Ou não.

E.

terça-feira, junho 28, 2011

Junho Avassalador, Jogador Sonhador

O Poder de um Vìdeo

No início desse mês, eu comentei a quebra de recordes de acesso por mês em meu blog, ocorrida no mês de maio... comentei como as pessoas não escreviam comentários, apesar do grande número de acessos. Pensei comigo que seria por preguiça dos visitantes - desinteresse não, pois se fosse desinteresse, não haveria sequer os acessos.

No final desse mês de junho, mais precisamente há quatro dias atrás - no dia 24 -, eu coloquei no ar um vídeo falando do Old Dragon... noves fora os momentos tragicômicos do vídeo, o interesse por ele foi tamanho: a página teve 92 visitações, sendo 71 delas no próprio dia 24. Isso fez com que o vídeo fosse parar no segundo posto dentre todas as páginas mais visitadas do blog. No total, foram quase 350 acessos no mês de junho, e o mês ainda não terminou! A página mais visitada em toda a história do blog é aquela sobre "O que é Old School", e em tereceiro lugar, a página sobre o "1º Quero Jogar RPG BH", ocorrido na UFMG há um ano atrás. Não vou "linkar", para não viciar as estatísticas :P

O quarto lugar dentre as páginas mais visitadas ainda  cabe ao primeiro post sobre "O Mito do Balanceamento de Classes", com 51 visitas. Vamos ver quanto tempo ainda levará para que esse "capítulo negro" do blog fique para trás...

Fiz a divulgação do vídeo pelo twitter, e pelas listas de e-mails da áreaRPG e da Rede-RPG... sei também que as atualizações do meu blog são noticiadas na Lista Lúdica, no Valhalla RPG e no São Google (esse aí é a origem de 20% do tráfego total do site). Alguns amigos também acompanham (seguem) o blog, e portanto são informados automaticamente sobre suas atualizações. Essas bravas 18 testemunhas - dentre elas, minha namorada - com certeza contribuíram para o aumento no fluxo do site. Imagine só, o poder de um vídeo!

... Mas Não É Só Isso!

Além dos numerosos acessos, houve também comentários. Até o momento, são 7 comentários - três deles respostas minhas aos comentários anteriores. Isso fez com que o site saísse de um hiato de duas postagens sem comentários... nas últimas 11 postagens, oito não receberam comentário algum! A leitura que eu faço  disso é que, com a transformação do blog - parei de falar mal de certas coisas, e comecei a falar daquilo que interessa - as pessoas se sentem mais à vontade para comentar o assunto em pauta. É como disse o Tio Nitro em um de seus podcasts: "pra quê é que eu vou perder tempo falando daquilo que eu não gosto? Eu não ganho nada com isso! É melhor falar do que me agrada, daquilo que me diverte, e pronto: o resto que se dane". Palavras sábias, Grande Mestre Nitro!

E Agora, Para Algo Completamente Diferente

Eu vou falar com vocês, existe um povo de Portugal com uns podcasts interessantes! O mais bacana de todos que eu ouvi por esses dias foi o Jogador Sonhador, do Ricardo Tavares. Já está no episódio 40, mas eu ouvi tudinho de um mês pra cá, e valeu a pena, especialmente os primeiros, nos quais ele fala de vááááários sistemas de RPG (Mouseguard, LOTFR, Vampire, Warhammer, etc). Em outros episódios, ele recebe entrevistados, ou fala de convenções de RPG lá da Europa, enfim, dá uma perspectiva boa de como as coisas são por lá - não tão diferentes daqui! - e ainda é em português. Recomendadíssimo!

E.

sexta-feira, junho 24, 2011

Vídeo: Apresentação do Old Dragon

Taí um vídeo que eu estava enrolando já para fazer, fiz agorinha mesmo, ficou bem "true", com uns momentos meio constrangedores e umas gagueiras fora de lugar. Como estou realmente sem tempo 9e sem feriado) resolvi exibir mesmo assim.

Só reiterando: eu não comprei somente o Old Dragon, eu comprei também: o bloco de fichas de personagens, as canetas para quadro branco, o grid de combates, e a divisória de mestre. Eu comprei um pacote que ficou em pouco mais de 100 reais, contando a taxa de entrega... e é isso que é exibido no vídeo (fora as minis, que eu juntei ao longo do tempo, e que estão todas à venda).

Sem mais delongas, aí está o vídeo:


Então, é isso... quando tiver mais novidades, eu entro em contato. Ou não. Ah, e eu fiz inscrição para a colação de grau: ficou para o dia 23 de agosto, daqui a 2 meses. Torçamos para que tudo se resolva até lá!

E.

quarta-feira, junho 01, 2011

Mês de Maio - O Melhor de Todos?

Acabei de ver as estatísticas do blog e, com 256 acessos, maio de 2011 foi o mês de maior acesso do meu blog. A postagem sobre "O Que é Old School" rendeu 57 visualizações - e nenhum comentário. Interessante. As pessoas leem, mas não se importam o suficiente para comentar...

Fico pensando em como escrevi pouco nesse mês passado. Queria ter escrito mais, porém não tinha muito tempo para o fazer. Por exemplo, o texto sobre gnomos, que eu estou para enviar para o pessoal do Old Dragon deeeeesde o começo do ano: eu só enviei ontem. Agora, é esperar para ver se eles vão curtir, se terei de refazer, se posso fazer sobre outros humanoides de AD&D para o sistema Old Dragon... quem sabe, arakokras? Trolls? Párias?

Meus recursos na UFMG, finalmente, chegaram até à Congregação... eles formaram uma comissão nova, para reavaliar a prova. Hehehe, é interessante como as coisas ocorrem... você pede para fazer uma prova, pede para o professor tal não te avaliar, daí eles põem o professor tal para te avaliar, então a prova vem "com certas características", você recorre da prova e... eles formam uma comissão nova, sem o professor, para te avaliar. Imagine se eles concordassem comigo logo de cara, e deixassem a pessoa de fora do processo, né? Mas nãããããooooo... resultado: 2 meses de trâmites após o resultado. E eu realmente acredito que ainda não terminou. Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, aí vou eu!

Vou mestrar AD&D nesse fim de semana, porque ninguém é de ferro. Estou jogando em um grupo há um tempo, estou me divertindo demais, e quero ver se consigo mestrar no mesmo nível de diversão dessa campanha em que estou jogando. Quero ver se tem como, apesar de a diversão ali ser muito devido à profundidade da campanha, do histórico de jogo, etc. E essas coisas a gente não consegue construir em eventos. Mas vamos ver.

Estou esperando meu time começar a jogar DE VERDADE no Brasileirão 2011 para falar de futebol aqui. Creio que, para as próximas duas rodadas, ainda patinaremos um tanto. Quem sabe, na quinta ou na sexta rodada, eu não escrevo aqui?

E.

P.S.: Muito grato pelos acessos, mesmo sem comentários. Se alguém quiser dizer ou perguntar algo, fique à vontade.

domingo, maio 15, 2011

Arrancada para O Centésimo Campeonato Mineiro

Em 2015, segundo fontes pouco confiáveis, o Campeonato Mineiro fará 100 anos. Vários cômputos existem sobre quem ganhou mais títulos, quem é mais vitorioso no maior clássico de Minas Gerais, mas o início do torneio, em 1915, parece ser um consenso entre todos os participantes.

O Cruzeiro não disputou todas as edições do estadual: o clube só foi fundado em 1921, quando o América ganhara seis das sete edições até então (e ainda viria a ganhar todas, até 1925), firmando seu decacampeonato - quatro títulos em cima do Atlético-MG, quatro em cima do Cruzeiro. Curiosamente, o Atlético-MG "sumiu" das finais entre 1919 e 1925, justamente quando o Cruzeiro surgiu, e então reapareceu para dividir o título de 1926, quando duas ligas disputaram o estadual (uma vencida pelo Atlético-MG, e outra pelo Cruzeiro). Curiosamente, o América não aparece em nenhuma das duas finais.

A primeira final entre os clubes que, cem anos depois, seriam os maiores de Minas, ocorreu em 1927: o Atlético-MG ficou com o título, após a histórica goleada, a maior do clássico: 9 x 2 para os alvinegros. O remédio amargo tomado pelo Palestra Itália, contudo, foi bem absorvido, e o time viria a emplacar seu primeiro tricampeonato nos anos seguintes, sendo dois dos títulos com 100% de apriveitamento - um dos jogos do Campeonato de 1930 não foi realizado, devido a WO por parte do Atlético-MG.

Como se pode ver, pelas estatísticas do estadual, até os anos 1940 vários outros times chegavam às finais do torneio (Yale, Villa Nova, Siderúrgica, Retiro, Olympic...), o que desmistifica, na minha opinião, a supremacia de algum time no futebol mineiro nos primeiros 30 anos da competição. Não se pode questionar a força que América, Atlético-MG e, mais tarde, o Palestra Itália tinham, mas eles não eram hegemônicos. O Atlético-MG ficou 10 anos sem ganhar o estadual (1916-1925), o Villa Nova emplacou, em cima de Palestra e Atlético-MG, um tetracampeonato (1932-1935) e, em 1937, nenhum desses times estava presente na decisão do título, perdido pelo Villa Nova para o extinto Siderúrgica.

A partir de meados dos anos 1940 o campeonato fica mais centralizado, contando com 4 forças principais: Atlético-MG, Villa Nova, América e o Palestra Itália, que mudaria seu nome para Cruzeiro, por força de Decreto Lei. O América, claramente, perde muito de seu espaço para a ascensão de Cruzeiro e Villa Nova, o que tornaria o campeonato mais e mais polarizado. Ainda teríamos a presença do América em 4 finais consecutivas (1957-1960), mas após 1965, o time ficaria cada vez mais em segundo plano. O mesmo ocorreria com o Villa Nova e com o Siderúrgica, este último ainda viria a ganhar seu último título estadual em 1964.

Dos anos 1970 em diante, a polarização é evidente: de todos os títulos disputados, apenas quatro não pertencem a Cruzeiro ou Atlético-MG. O América levou dois, o Ipatinga um, e a Caldense levou outro. O campeonato mineiro tornou-se, realmente, um estadual, e não mais o "Torneio da Cidade", ocorrendo jogos em todos os extremos do estado de Minas Gerais, o que ajudou a popularizar os times da capital pelo interior.

No total, temos 40 títulos do Atlético-MG, 36 do Cruzeiro (computado o Supercampeonato Mineiro de 2002) , 15 do América e 5 do Villa Nova. Com o centenário do estadual se aproximando, em 2015, uma pergunta paira no ar: quem será o maior ganhador do torneio nesses primeiros 100 anos de existência? Alguns podem argumentar que o aproveitamento do Cruzeiro é melhor, já que participou de seis edições a menos; outros podem falar do inalcançável decacampeonato (Eneacampeonato?) do América, pode também ser dito que o Atlético-MG é sim o maior campeão do estado, enquanto outras pessoas podem considerar isso tudo uma grande perda de tempo. Para quem gosta de futebol, contudo, isso é bem curioso, motivo de debate, de saudáveis discussões, e mais uma oportunidade de lembrar e contar os feitos do time do coração. E futebol não é para ser assim?

E.

P.S.: Se o meu Cruzeiro emplacar um pentacampeonato, conquistando os títulos de 2011 à 2015, ele chegará a 41 títulos, desbancando o Atlético-MG de vez, no centenário da competição. Já pensou???

P.P.S.:  Um já foi: faltam quatro!!

quarta-feira, maio 11, 2011

domingo, maio 08, 2011

Atlético-MG 2 x 1 Cruzeiro

Não vi o jogo todo, vi apenas o final do segundo tempo (para quem não sabe, eu estava em um velório ontem, e fiquei a madrugada toda, então cheguei em casa morto, só quis saber de cama). Vi pouca coisa, vi o chute na trave do Gilberto, vi a briguinha do Fabrício com o Mancini, vi o destempero do Montillo. Aliás, pelas entrevistas que o Montillo deu nesses últimos dois dias, eu achava que ele nem iria participar do primeiro jogo da final.

Dei falta do Roger no jogo. Vi depois que ele foi para o banco, mas não foi utilizado. Erro do Cuca: o jogador tem qualidade, então tem de jogar. Quer punir por conta da expulsão, pune no bolso e põe o cara pra jogar. Jogar, jogar e jogar. Agora, para o segundo jogo, como fica a cara do treinador, já que o time agora precisa do jogador para completar o meio de campo?

Eu imagino que os atleticanos estejam muito felizes, não apenas pela vitória, mas pelo fato de ser a terceira consecutiva... bacana, bacana mesmo. Só que o Cruzeiro tomou esse remédio não tem nem uma semana! Venceu o jogo de ida por 2 a 1, ficou se achando, e deu no que deu semana passada. Mas eles tem mais é que curtir a vitória; se fosse o Cruzeiro o vitorioso, eu estaria muito feliz!

Agora... vamos falar de outras coisas...

Falando de Outras Coisas (do Futebol)

Vi uma coisa muito bacana nesse meio de semana: a CBF está estudando uma maneira de (re)organizar o calendário, de modo a permitir que os times participantes da Libertadores possam participar da Copa do Brasil, caso tenham se classificado para a competição. No melhor dos mundos, as vagas para a Copa Sulamericana também serão reorganizadas, sendo distribuídas a partir do primeiro colocado do Brasileirão, a partir de 2012. Então, teremos o retorno da qualidade da Copa do Brasil (que, desde 2004, é um torneio de segundo escalão, justamente porque não conta com os melhores times do Brasileirão anterior) e a participação brasileira na Copa Sulamericana contará com uma melhor qualidade, uma vez que serão os oito primeiros do Brasileirão do ano anterior que a disputarão. Sério, botar time que é 14º colocado para disputar torneio internacional é pedir para passar vexame. Não é à toa que demorou tanto a haver um campeão brasileiro nessa Copa! Quem sabe, agora, eu não tenho como rever meu Cruzeiro jogando Brasileiro, Libertadores, Copa do Brasil, Sulamericana, Mineiro e sabe Deus mais o quê, tudo no mesmo ano?

Falando de Outras Coisas (do trabalho)

Nessa semana que entra eu retorno ao trampo... saudades do pessoal todo, dos alunos, e até mesmo de ver os ares de Vespasiano. Saudade estranha, de fazer uma coisa que eu gosto muito, que é dar aulas. Pena que não dê grana... ao menos, não para o professor! Terei também de recolher as provas, os trabalhos, corrigir e ver como foi a turma. Espero que tenham ido bem! Tentei não forçar a barra, não deixar a vida deles (ainda) mais complicada, e espero ter conseguido. Vamos ver!

Falando de Outras coisas (da universidade)

Amanhã tem aula especial... não posso faltar. Vou ver também se eles decidiram algo em relação aos recursos que impetrei no Colegiado de Graduação. Vamos ver se andou alguma coisa, pois eu já pedi algumas coisas há mais de um mês. Senão, oh bem... é recorrer às instâncias superiores.

Também é hora de rever amigos e amigas. Apesar de eu já ser dinossauro (o último?) no curso, há sim bons amigos e amigas, dos quais eu sinto falta, e espero revê-los muito bem. Finalzão de semestre, proibiram o Geoteco, vamos ver para onde vai a comissão de formatura... sem falar de uns trabalhos que eu nem iniciei!

Falando de Mais uma Última Coisa

Feliz Dia das Mães para você aí, que escolheu encher o peito de amor, e soltar o coração para andar e descobrir o mundo. É o aprendizado nosso, da humanidade, que só tem como nascer de sua coragem e de sua angústia. Muito obrigado, e parabéns a todas as mães!

E.

quinta-feira, maio 05, 2011

O Que é Old School?

Bão... vamos cumprir com a obrigação, mas vamos fazê-lo de maneira agradável.

Se você aí ainda não sabe, não ouviu dizer, não sabe do que se trata: o old school é um movimento de contracultura (ô, dó!) ou de retrocultura, ou de gordinhice mesmo, que procura resgatar para os dias de hoje (segunda década do século vinte e um) o tipo de experiência que se tinha quando se jogava RPG em alguma época das duas últimas décadas do século vinte. Resumindo: é um saudosismo repaginado, revisto, revigorado e, por isso mesmo, muito bom.

É, sim, eu disse saudosismo, porque o que é bom na vida deve ser rememorado, especialmente quando não está mais sendo produzido por editora alguma, em lugar algum. Quando todas as iniciativas do mercado de um país são direcionadas para acompanhar o sistema mais novo, mais recente, mais divulgado, mais isso e mais aquilo, é extremamente louvável que surjam apaixonadas pessoas, saudosistas, que metem a mão na massa e criam não apenas iniciativas blogueiras, mas sim editoras e produtos novos, que trazem a sensação de estarmos jogando algo realmente velho.

Ou, talvez, nem tanto assim.

Não há como um produto antigo, 100% fiel aos idos de 1980, ser agradável para as pessoas dos vindos de 2011, simplesmente porque o mundo mudou, e muito. É exatamente aí que entra a preciosidade, o inestimável peso do saudosismo nessa iniciativa. Como se sabe, o saudosista esquece das partes ruins, apega-se às partes boas, e então retrata o passado como melhor que o presente.  Isso faz com que, usualmente, o saudosista esteja, por definição, errado. Não há melhor ou pior, há apenas épocas e experiências diferentes, cada uma presa ao seu contexto. Mas é aí que entra o gênio da coisa.

Um RPGista saudosista guardou, ao longo de dez, vinte ou mesmo trinta e tantos anos, as melhores experiências possíveis de sua carreira como RPGista, sendo mestre e/ou jogador. Claro que nem tudo eram flores (é só abrir os livros da época para ver as atrocidades em preto e branco), e é evidente que as edições e os produtos mais recentes trouxeram aprimoramentos. Nesse contexto, o RPGista sênior tende a incorporar novidades ao seu jogo - novas regras, novos modelos, novas mecânicas, etc - mantendo o que lhe agrada na edição anterior. Há, portanto, uma repaginação do produto, a cada nova versão do mesmo, ou então a cada nova edição do jogo. Até mesmo RPG's de outras editoras servem como parâmetro, simplesmente porque trazem uma nova perspectiva ao jogo.

Um bom exemplo (em se falando de Brasil) são as regras utilizadas no AD&D segunda edição, que foi a versão traduzida para a nossa língua. Nele, atribuir o total de pontos de vida aos personagens de primeiro nível era uma regra opcional, nova, mas que era tão amplamente utilizada que se tornou cânone do Old School. Um jogador de D&D sabe exatamente como era cruel rolar o dado de vida para seu guerreiro, tirar 1 no dado, e ter de passar por toda a masmorra com 1pv de máximo. Claro, pois a morte do personagem vinha com 0 pontos de vida - a regra de se permanecer iconsciente até -10pv's era também opcional. Logo, um jogador de AD&D - que é o jogador considerado Old School no Brasil - aprendeu tais regras - opcionais - como cânones, absorvendo algo novo e incorporado a algo antigo. Assim sendo, o saudosismo incorpora porções opcionais tratadas como cânone, ou seja, propicia não apenas uma memória seletiva, como também uma seleção natural entre o que é bom e o que é melhor.

O Old School, então, embarca não nos retroclones de uma dada edição ou outra, mas sim nos "retrofrankensteins" de várias edições, várias regras opcionais, várias experiências de jogo e da interatividade (viciosa ou virtuosa) ao longo de tantos e tantos anos de conhecimento acumulado. Aí o saudosismo é a ferramenta preciosa, que permite a seleção pela memória do mestre/jogador daquilo que deve ou não deve ser trazido para as novas edições.

Resumindo, Old School é um movimento de repaginação das experiências antigas de jogo, onde as regras eram menos importantes, o improviso imperava e todas as decisões finais cabiam ao mestre de jogo, que também deveria ser uma pessoa interessada em desenvolver uma história envolvente para todos os participantes do jogo, inclusive ele mesmo. Dentro desse contexto, 10 máximas do movimento old school seriam:

10. Entenda que o tempo passa, a vida passa, tudo passa. Até uva passa;
09. Entenda que não é porque algo é velho que é bom, assim como não é porque algo é novo que é uma merda;
08. Procure entender que é um exercício fútil defender contas com números negativos, porque sim;
07. Procure entender que regras opcionais não retiram o mérito de sistema algum e são, ademais, apenas opções;
06. Saiba diferenciar o que está escrito nos livros, do que está acontecendo no jogo;
05. Saiba diferenciar a parcialidade do mestre da imparcialidade dos dados;
04. Conheça as regras, e reconheça o direito do mestre de as ignorar;
03. Conheça os jogadores, e reconheça o direito deles de discordar de você;
02. Jogue para o grupo;
01. Jogue para se divertir.

Além disso, claro, é fundamental saber administrar seu tempo, utilizando-o construtivamente. O movimento Old School é um bom objeto de trabalho, de estudo, enfim, uma ótima maneira de se ter o que fazer. Agora, não há mais porque ficar de mimimi com essa ou aquela edição, trabalhando para a dirimir, perdendo tempo e espaço preciosos xingando aquilo que você não gosta. Passe seu tempo construtivamente, fale dos sistemas Old School, colabore com eles, escreva e contribua com algo que você mesmo viu em sua mesa de jogo. O movimento de contracultura está aí, é só aderir...

E.

P.S.: Em respeito ao posicionamento Old School, está terminantemente cancelada a série de artigos "O Mito do Balanceamento de Classes", que contou com apenas 2 partes, e contaria ainda com outras 2 ou 3. A partir de agora, tratemos do Old School por essas paragens, pois sim?

Cruzeiro 0 x 2 Once Caldas

No jogo de ontem, o Cruzeiro foi eliminado da Libertadores da América, devido a um placar agregado de 3 a 2 para o time colombiano do Once Caldas. Há um tempo atrás, escrevi algo que resumiria muito bem essa derrota, mas estou com um pouco mais de tempo aqui, e portanto escreverei algo mais sobre o assunto.

Não adianta culpar o Roger, ele tem as mesmas limitações que tinha quando entrou no Cruzeiro. Indo direto ao ponto: ele não sabe marcar. E, em um jogo onde vários outros jogadores renderam muito menos que o esperado (especialmente Henrique e Marquinhos Paraná), é de se esperar que outros (Roger, Montillo e Gilberto) fiquem sobrecarregados e procurem fazer a tarefa dos outros. Daí o jogador se sente pressionado a carregar o companheiro de equipe, tenta fazer o que ele faz, e faz merda. Se não fosse a complacência do juiz com o soco que o Henrique tomou de um jogador do Once Caldas logo no início da partida, talvez o Roger fosse expulso 10 minutos antes, aos 20 do primeiro tempo, em um outro lance em que ele chegou afobado, atrasado, longe da bola e atingindo o adversário por trás. É expulsão, por qualquer ângulo que se analise a performance do jogador. Não era o dia dele, como não será o dia dele sempre que ele tiver a função de marcar por pressão.

Também não adianta correr atrás de gol anulado. Adianta sim se perguntar o que levou o time a chutar tão pouco ao gol adversário... aquele gol anulado, aos 37 do segundo tempo, foi o primeiro chute do Cruzeiro rumo à meta na partida. Ou, talvez, tenha sido o segundo, ou o terceiro, mas não mais que isso. E aí, como fica? É culpado o bandeirinha que errou um lance em vinte, ou a equipe que criou vinte chances, e só acertou uma?

Velha explicação para o novo fracasso, meus amigos: o time entrou mal em campo, de salto alto, crente que já havia se classificado. Entrou pensando no Santos, na Vila Belmiro, nas quartas de final, e se esqueceu do adversário das oitavas. Aliás, que time limitado, tem o Once Caldas! Agora, só falta o Santos golear nos dois jogos, e toda a participação do Cruzeiro nessa edição da Libertadores passará a ser considerada uma mera anomalia, um conjunto de acasos, e não o produto do trabalho sério e dedicado de toda a equipe técnica. Tudo porque o time não rendeu o esperado.

Fica agora a final no campeonato estadual, e a necessidade de vitória e de boa apresentação. Também tenho boas esperanças quanto ao Brasileirão, onde uma partida mal jogada não costuma enterrar o trabalho de uma equipe. Veremos. Tudo ao seu devido tempo.

E.

quinta-feira, abril 21, 2011

... E Adianta Eu Querer Escrever?

Bom, novamente, grande hiato nas postagens aqui no blog... coisa de um mês inteiro sem notícias, correto? Será que foi por falta de assunto? Claro que não.

Vamos falar, primeiro, do que está aporrinhando minha vida: a formatura que não chega. Me submeti a 3 provas de comprovação de conhecimentos, que teoricamente tinham por objetivo avaliar meus conhecimentos acerca de 3 matérias ofertadas pelo IGC. Passando nas provas, eliminava as matérias. Fiz os pedidos no começo do ano (primeira semana de janeiro), e eles acharam por bem marcar as provas para os dias 1, 4 e 5 de abril. Sim, assim mesmo, na sequência. A última delas, por sinal, durou mais de 10 horas (9 da matina atéééé 8 da noite), sem pausa para almoço (eu só comprei um lanche, e até trouxe outro para o professor que estava me avaliando). Depois dessa maratona toda, fui reprovado em duas das três provas - detalhe, uma delas tinha até conteúdo que não está no programa da disciplina. Como a coisa toda ficou feia, estou com recursos contra as provas, as correções, os métodos, enfim, o Inferno na Terra. Tenho dedicado meu tempo para isso.

Como se os problemas acima não fossem suficientes, tenho, claro, outras obrigações na vida. Umas eu abracei por livre e espontânea vontade; outras, nem tanto. Tenho tentado organizar eventos de Magic: The Gathering em BH, mas não tenho tido muito sucesso - o povo não vai, ou vão poucas pessoas. Estou escrevendo ambientações para o Old Dragon, mas estou atrasado no cronograma. Descobri que tenho uma tia, irmã da minha mãe, e a gente pôde se conhecer recentemente. Tudo isso, bom, eu escolhi fazer - especialmente conhecer minha tia, porque ela é uma pessoa batalhadora, desse tipo de parente que dá orgulho de se falar a respeito. Daí, claro, tem as obrigações atribuídas pela vida: trabalho, viagens de campo, coisas da estrutura familiar, etc.

Não vou comentar muito a respeito disso ou daquilo, mas o fato é que tive motivos para estar distante. E não, não estou justificando nada para ninguém, quer dizer, talvez esteja escrevendo - e justificando - para mim mesmo. Porque é muito fácil ficar perdido no furacão. E, entre trabalhos de campo - tenho um que começa semana que vem, e durará 10 dias - aulas do Curso Técnico onde trabalho, processos contra professores e decisões de colegiado e tantas outras coisas, bem, não é que eu não queira escrever, é só que a minha cabeça está em outros lugares (sim, no plural).

Então, é isso. Só para dar um oi e um tchau. Nem vou falar de futebol (Cruzeiro, o Barcelona das Américas - será que será vice também?), estou apenas informando que eu estou vivo, e tentando escrever, mas ainda sem tempo. Faculdade, Trabalho, Prevaricadores, Família, Dinheiro, Eventos, tudo isso afeta em muito meu desempenho aqui. Conto com a paciência de todos os que acompanham o blog (ha!).

Volto dia 10 de maio.

E.

quarta-feira, março 16, 2011

A Lenda da Criação do Geólogo

Chegou à minha caixa de e-mails interessante texto, fábula, sobre a criação Divina do Geólogo. Bom, este blog, de Geologia, só tem o título, então achei por bem incluir o texto aqui. Servirá a todos, pelo menos a título informativo/lúdico. Ou não.

Então, sem mais delongas, aí está o texto, colado na íntegra. O blog que é fonte do mesmo é citado ao final... portanto, a postagem não terá a minha assinatura ao final, e sim logo após o preâmbulo que aqui se encerra.

E.
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Lenda da criação do geólogo

Reza a lenda que Deus tinha acabado de criar nosso mundo, com tudo que aqui há (aliás, quase tudo, como se verá). Já tinha tirado o merecido descanso dominical, curtindo o solzinho (uma de suas criações mais difíceis, segundo Ele) de Jeriquaquara, Porto Seguro e Búzios. E até já fazia planos para novos mundos, quando, ao lançar um derradeiro olhar sobre Sua obra, deparou-Se com curiosa cena. E pôs-Se a assuntar.

Neguinho ia passando numa estrada, meio lá meio cá, depois de umas manguaças, quando lasca o dedão numa pedra e se esborracha no chão, feito côco seco. Tinha uma pedra no caminho.

Era uma pedrona, de uns dez quilos, incolor, transparente, brilhante... Neguinho se levantou, o dedão latejando parecendo uma ameixa roxa, a unhona pendurada, pegou a pedra na mão e desabafou:

- Quem foi o filadaputa que deixou esse puta cristal de quartzo no meio do caminho?

Nisso, passa um médico, que logo se apressa em tratar a ameixa, digo, o dedão da vítima, extirpando os restos de unha e fazendo o devido curativo. Na hora de receber, o médico, que já tinha visto pedra semelhante alhures, dá uma de joão-sem-braço:

- O que é isso companheiro? Fui médico particular do Homem durante os seis dias da Criação! Acaso passou por sua cabeça que eu iria me aproveitar de sua fragilidade, aqui nessa estrada, para enfiar-lhe a faca? O juramento de Hipócrates para mim, é sagrado! Minha assistência não lhe custa nada e até far-lhe-ia, de bom grado, o favor de levar, como lembrança, essa que foi a cruel causadora de suas dores. Vou levar essa pedrona para mim.

Neguinho, ainda atordoado, já ia entregando a pedra, quando um economista passante intervém:

- Momentinho senhores! Sem querer, assisti ao que aqui se passou e gostaria de conhecer melhor essa malfadada pedra. Não sei se vocês sabem, mas fui eu que fiz o plano de viabilidade econômica do mundo, a pedido do Homem.

Após examinar a pedra contra o sol, girando-a por cerca de cinco minutos, faz surpreendente oferta:

- Sou professor de economia mineral (Deus já tinha criado a economia mineral) e gostaria de levar esse espécime de topázio, sem valor econômico, apenas para compor o acervo de amostras da minha instituição. Para não dizerem que levei de graça, dou-lhes cem reais, cinquentinha para cada um, e estamos conversados!

Neguinho já ia passando a mão nos cinquenta, quando, surgido não se sabe de onde, um administrador interrompe o tripartite colóquio:

- Mas o que temos aqui? Três adultos numa negociação de boca, sem nada escrito, sem ao menos um contrato! Onde está o profissionalismo? Na qualidade de assessor administrativo do Homem, fui eu que planejei a Criação, em seus mínimos detalhes.
Vamos fazer um plano de negócios pra botar uma ordem nessa zorra!

Tomou a pedra do economista, tentou riscar-lhe com uma lâmina de canivete, mas a lâmina é que saiu toda arranhada, perdendo o fio. Sem pestanejar propôs:

- Esta pedra serve direitinho para segurar a porta lá de casa, que bate muito com o vento. O plano de negócios é o seguinte: eu fico com ela por duzentos reais, em quatro prestações mensais e iguais. Para sacramentar a transação, aqui está um contrato
prontinho pra assinarmos sem mais perda de tempo.

Como naquela estrada passava de tudo, eis que chega um engenheiro, exatamente a tempo de impedir a insólita negociação. Dizendo-se responsável técnico pela Criação, pede para que todos se afastem e inicia um meticuloso exame na sanguinária pedra. Anota todas as dimensões, inclusive os ângulos das faces e arestas, expõe ao sol, olha com uma minúscula lupa (uma das últimas criações de Deus, antes de Adão e Eva), risca, cheira, lambe, ausculta, e o escambau. Depois, com a solenidade das grandes sentenças, anuncia:

- Tecnicamente falando, trata-se de um megacristal de coríndon incolor, mineralzinho chulo, que não serve pra nada, mas dá uma boa pedra de amolar. Gostaria de tê-la, para amolar minhas ferramentas. Sendo assim, pra acabar com o leilão que aqui se instalou, a pedra é minha por mil reais.

- UUHHHHHH! Fez a platéia em volta. Sim, porque, àquela altura já havia uma pequena multidão em volta do grupo e da polêmica pedra.

- Mil reais??? Por mim, negócio fechado, fez o bebum, doido pra pegar a grana e voltar pra sua taberna.

- Eu cheguei aqui primeiro e tratei a ameixa, isto é, o dedão do pé desse bebão. Tenho preferência, portanto. Fico com a pedra por dois mil reais! E ponto final!

- UUHHHHH! A platéia delirava.

- Bom, como prova do meu amor pelas ciências e pela educação, levo a pedra por quatro mil reais e não se fala mais nisso!

- Vende! Vende! Vende! A platéia berrava.

- Sem organização não chegaremos a lugar nenhum! E meu plano de negócios? Pois vou alterar a cláusula de valor e estipular em dez mil reais o preço da pedra. Fim de papo.

Três mocinhas da primeira fila da platéia desmaiaram. Uma mulher grávida pariu uma garotona, imediatamente batizada de Pedrita. Neguinho se animou:

- Quem dá mais? Quem dá mais?

Quando o engenheiro levantou o braço pra fazer sua contraoferta, um personagem novo entra na história. Nada mais, nada menos que um advogado. Ou, conforme se apresentou ao surpreso grupo, assistente jurídico do Homem, durante a Criação.

- Se não fosse eu, o Homem tava ferrado. Mais de mil ações por danos morais, já pensou?! Ganhei todas!

Diante da barulheira infernal, o advogado começou a berrar:

- Data vênia minha gente! Datíssima vênia! Quo vadis?

Sem mais recursos, pegou duas varas, exibiu-as no ar formando uma cruz e soltou os pulmões:

- Vade retro satanás! Vade retro cão das sete portas!

Um silêncio sepulcral se formou, quebrado apenas pelas risadas da moça que recebeu uma pomba-gira, na última fila da platéia.

O assistente do Homem, então, tirou de sua mochila (criada especialmente para ele, pelo Homem) o código penal, o código civil, a CLT, o código nacional de trânsito, a Constituição Federal e o escambau de asa.

- Onde estamos minha gente? Data vênia, temos aqui quatro aproveitadores querendo explorar a infelicidade desse pobre bebum, que teve a sorte e o azar de arrebentar a cabeça do dedão do pé nessa pedra. Azar, porque perdeu uma unha, e uma unha, por mais unha que seja, é também obra da criação e merece todo nosso respeito.

O bebum, que era mineiro, encheu-se de brios:

- Uai sô! Intão vam fazê um minutin de silenz pur minh'unhona, uai!

E assim foi feito.

- Mas foi sorte também, retomou o advogado, porque era uma baita de uma unha encravada, provavelmente um pequeno descuido da equipe técnica auxiliar do Homem. Mas, nada disso justifica o que aqui se passa, porque uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O fato objetivo é que temos aqui um crime cristalinamente cometido. Temos sangue e temos vítima. E, nesse ponto, a lei é implacável, dela não escapando nem o reino britânico, muito menos o reino mineral. Dura lex, sed lex. Portanto, sem mais delongas, a pedra está presa, em nome da lei, para averiguações, exames de corpo de delito, antecedentes
criminais, etc e tal. Até a completa e cabal elucidação dos fatos. Duela a quien duela, no más!

Na platéia, a pomba-gira tinha agora a companhia de um preto-velho, que desceu doido por um marafo. O advogado prosseguiu:

- Quanto a esses salafrários aproveitadores, serão todos enquadrados na forma da lei, salvo melhor juízo. E saiu enquadrando todo mundo, a torto e a direito:

- Você está enquadrado no código do consumidor. Você na CLT. Você na lei das contravenções e você na 8.666...

Ao ouvir seu enquadramento, o engenheiro, inconformado, partiu para cima do causídico do Senhor, para tirar satisfações. Ao fazê-lo, contudo, deu um pisão na ameixa, digo no dedão do pé do bebum. Este, injuriado e não entendendo mais porra nenhuma, deu um contravapor na orelha do engenheiro, que foi se esbarrar com o médico, caindo ambos. Puto da vida, botou a pedra debaixo do braço e encostou-se numa árvore, em posição de defesa:

- Na minha pedra ninguém toca! Na minha pedra ninguém toca!

Sacudindo a poeira e dando a volta por cima, o médico sacou um bisturi de 15 cm, afiadíssimo, e ameaçou dissecar o engenheiro ali mesmo. O administrador, no meio da confusão, levou um sopapo do economista. Pra se vingar, pegou um chucho de madeira e mirou bem no coração do advogado, salvo pela capa dura da nova edição da CLT. A essa altura, o engenheiro se esgrimia com o economista, numa roda formada pela platéia. Este, com sua régua de cálculo, aquele com sua régua T. A platéia entrou em delírio, quandoo tranca-rua, recém-baixado, deu um direto no queixo do preto-velho, derrubando-o em cima da pomba-gira, que, mesmo assim, continuava dando risadas. Enfim, uma zorra concentrada a quente.

Deus, que a tudo assistia (lembram-se do primeiro parágrafo?), vendo aquela zorra no Seu mundo, que deveria ser perfeito, suspirou:

- Meu De... Ops! Meu Filho, onde foi que eu errei?

E pensou, pensou, pensou... Já estava quase desistindo, quando Lhe veio um estalo:

- Caraca! Onde estava com a cabeça? Esqueci de criar o geólogo!

Imediatamente completou sua obra. Levou um susto quando viu o resultado, pois, na pressa, fez um ser mal-ajambrado pra caramba. Depois conserto, pensou. E, pondo a destra na cabeça da criatura, ordenou, amorosamente:

- Vai lá, meu filho, e acabe com aquela bagunça.

O geólogo, ainda meio zonzo da criação assim tão espontânea, já ia saindo, após receber uma capanga, também recém-criada, com todos os apetrechos de tabalho dentro, inclusive uma garrafinha e uns sanduíches velhos, com ovo estragado, provavelmente sobras de outro mundo, quando ouviu a última recomendação:

- Mas, aja rápido, que ainda tenho um mundo pra começar a criar amanhã cedinho, viu filho? E assim, o geólogo adentra a lamentável cena. No caminho, tinha mamado metade da garrafinha enquanto traçava os sanduíches de ovo estragado. Afinal, não tinha comido nada ainda, desde que fora criado. Subiu num barranco, bateu palmas para chamar a atenção, ninguém ligou. O pau comia solto.

- Atenção minha gente! Por favor!

Começou a ficar puto! Tirou da capanga a garrafinha e levou-a, avidamente, aos lábios.

- Atenção cambada de filadaputa!

O ovo estragado começou a fazer efeito. O geólogo suava aos cântaros. Sorveu mais uns três goles dolíquido quente, o que deve ter aumentado a fermentação estomacal. O calor era insuportável. A barriga do geólogoparecia uma bomba atômica. Até que o pino não aguentou e explodiu:

- PUUUMMMM!!!!

Foi o maior pum que jamais se ouviu sobre a face da Terra. O pipoco ecoou nas serranias e provocou uma reverberação estrondosa, que quase arrebenta os tímpanos dos brigões. O cheiro de enxofre inundou o ambiente, forçando os contendores a protegerem o nariz. Aos poucos, a balbúrdia se aquietou. Depois de três explosões secundárias, o silêncio era de cemitério. Nesse momento, todos se voltaram para aquela coisa estranha, aboletada sobre o barranco da estrada:

          o Uma figura imunda, coberta de poeira;
          o Colete sujo esquisito, cheio de bolsos;
          o Uns troços pendurados no pescoço;
          o Boné esculhambado, aba pra trás;
          o Óculos raiban escuros;
          o Barba imensa de troglodita;
          o Capanga bolorenta a tiracolo;
          o Cinturão de couro, com um monte de coisas penduradas, destacando-se um martelo, calibre 38, cabo longo;
          o Calça jeans surrada que nunca viu água;
          o Perneiras sobre as calças e botina de couro.

Depois de mais uma dose da divinal garrafa, o geólogo, por fim falou:

- Olha aqui cambada, o Homem me mandou aqui pra acabar com essa baderna.

Assim dizendo, sacou o martelo, para utilizá-lo como banquinho, pois pretendia sentar-se pra fazer seu discurso. Achando que ia começar um tiroteio, a platéia se mandou. Em uma fração de segundo pomba-gira, preto-velho e tranca-rua desincorporaram e escafederam. Ficaram somente o bebum e os interessados na pedra.

O geólogo tratou, então, de terminar logo sua tarefa.

- Vou resumir o que temos aqui. Neguinho tropeçou num baita diamante, e agora sofre o assédio imoral de cinco espertalhões, cada um se fingindo de morto pra levar a pedra para si, por um preço irrisório.

Neguinho quase tem um ataque cardíaco, apertando a pedra contra o peito com as duas mãos:

- A pedra é minha, ninguém tasca, eu vi primeiro!

O geólogo continuou:

- Bom, o fato é que alguém vai ter de ficar com o diamante... Mas, quem?

- Todos levantaram o braço, a um só tempo:

- Eu!!

- Então, vamos resolver isso rapidinho. Com a autoridade que me foi dada pelo Homem, farei uma, e uma só, pergunta a cada um dos interessados. Não haverá segunda chance. Aquele que acertar sua resposta, de primeira, será o feliz proprietário do diamante. Ok?

-Ok, todos responderam, menos Neguinho, claro.

- Comecemos então, disse o geólogo, não sem antes dar mais uma golada na inseparável garrafinha.

Dirigindo-se ao médico, perguntou de sopetão:

- Então homem dos medicamentos, diga-nos: qual o antitérmico específico para baixar a febre do ouro?

Desconcertado, o médico foi se desculpando:

- Seria a mesma coisa da febre amarela?!

O geólogo o encarou por uns bons 15 segundos. O médico, entendendo o recado, pega sua maleta e se manda.

Chamando o economista, o geólogo dispara:

- Vamos lá, homem dos custos: considerando o valor da matéria-prima, o que sai mais em conta para um programa de moradia popular: casa com telhado de vidro na praia, ou barracão de zinco sem telhado e sem pintura lá no morro?

- Bom... É... Seria para o "Minha Casa, Minha Vida"?

Sem nenhum comentário do geólogo, após 15 segundos de profundo silêncio, o economista pega sua régua de cálculo e cai na estrada.

Vendo que seria o próximo, o administrador já ia saindo de fininho, mas o geólogo interpela-o:

- Calma homem dos planos! O senhor que conhece de cabo a rabo os planos de negócios, me diga: qual é a estrutura de um plano de falha?

- Plano de falha?? Não seria um plano de falência?

O administrador nem esperou resposta. Baixou os olhos, pegou sua pastinha e deu no pé.

Para comemorar o bom andamento de sua missão, até ali, o geólogo deu uma beiçada na garrafinha e dirigiu-se, candidamente, ao engenheiro:

- Mas diga-nos, homem do tijolo e do cimento, o que acha do uso das placas tectônicas em lugar das placas de concreto?

- É... Por um acaso, o senhor quer dizer placa arquitetônica??

Silêncio constrangedor.

- Bom, é melhor eu ir andando. Tenho uma obra pra fiscalizar ainda hoje.

Assim dizendo, sumiu pela estrada, a régua T debaixo do braço.

Naquele momento, o advogado acabava de recolher seus códigos legais espalhados durante a refrega.

- Muito bem, disse o geólogo, pelo que vejo, o senhor conhece todas as leis de todos os códigos da terrinha.

- Isso mesmo, de trás pra frente, de cor e salteado.

- Pois então, homem das leis, quantos artigos existem na lei da sucessão estratigráfica?

- Data vênia, não seria lei da sucessão hereditária?!

Ante o olhar implacável do inquisidor, o advogado terminou de recolher seus códigos para ir embora, mas ainda pode ouvir:

- Aprenda de uma vez, homem das leis: há mais leis entre o céu e a terra do que...

O resto ele não ouviu porque já estava muito longe, estrada a fora.

Ufa! Missão cumprida, pensou o geólogo. Paz restabelecida, platéia dispersa, aproveitadores escorraçados... Só o pobre do bebum, que não tinha entendido porra nenhuma, continuava com sua pedra debaixo do braço:

- A pedra é minha e ninguém tasca!

Por duas vezes ameaçou atirá-la na cabeça do geólogo.

Nesse momento, Deus resolveu dar o toque final na história e apareceu, em pessoa. Usando de Seus poderes magnéticos, retirou a pedra do bebum e deu-a ao geólogo.

Inconsolável, Neguinho resistia a seguir viagem, mas Deus, a sinistra em sua cabeça, aconselhou-lhe:

- Vai meu filho, que tua ameixa, isto é, teu dedão já está curado. Vá para sua amada Minas e, lá chegando, torne-se um poeta e quando se lembrar dessa pedra do caminho, faça uma bela poesia. Ah! Leve esse barrilzinho contigo e, chegando lá, distribua o conteúdo com teus conterrâneos. Eles vão gostar pra caramba. Tem um papelzinho dentro, com a receita. Vai com De... Ops! Vai Comigo!

E assim foi. Neguinho montou um alambique, mas até hoje nunca esquece que havia uma pedra no caminho.

Ao geólogo finalmente, Deus disse:

- Meu filho, estou com muita pressa, vim apenas me despedir e agradecer, porque contigo, completei minha Criação. A Terra sem geólogo é como acarajé sem vatapá.

Tomando aquele imenso diamante de 10 quilos nas mãos, jogou-o para cima, e a pedra se esfalerou em bilhões de minúsculos fragmentos, levados pelos ventos e espalhados nos quatros cantos do mundo.

- Vai meu filho, estuda a Terra, mapeia as pedras, os rios, os vales, as montanhas e suas entranhas. Mostra aos homens que tudo de que eles precisam pra sobreviver, Eu provi aqui mesmo. Certo que alguns bens metálicos Eu escondi nuns lugares esquisitos por aí, nem Me lembro mais onde, mas tu hás de descobrir, com tua perspicácia. E sendo a Terra o celeiro das minhas criaturas diletas, é preciso respeitá-la, entendê-la e, sobretudo amá-la. Ensina tudo isso aos homens, em Meu nome. Vai que é tua, Brucutu!

- Como recompensa pelo teu competente trabalho, jamais correrás o risco de perder a unha num diamantão desse quilate. Aos garimpeiros caberá a tarefa de reunir os pedacinhos que aqui hoje dispersei. Mas, para isso, terão que ralar muito. E essa garrafinha te acompanhará para sempre. Será o bálsamo para a vida sofrida que terás. Mas beba com moderação, viu, meu filho?

Assim dizendo, pegou uma nuvem fria e se perdeu, céu a fora.

E é por isso que as coisas são como são.

Geólogo Regineto
http://regineto.blogspot.com/

quinta-feira, fevereiro 24, 2011

1987 - Parte 2

Pois é, meu time goleou anteontem, o Atlético-MG passou apertado por São Luís do Maranhão, mas se é para falar de futebol, eu preciso falar de algo muito mais sério.

Para quem não entendeu o título do artigo, 1987 foi o ano em que se armou , não pela primeira ou última vez, uma grande confusão no futebol brasileiro (que já vinha aos trancos e barrancos há mais de uma década, diga-se de passagem). E, ainda hoje, por conta daquilo lá, ecoa um sentimento sovina e mesquinho, acerca de uma desgraçada taça de bolinhas, direitos de transmissão dos jogos e similares.

Mas, comecemos do começo. Que é, curiosamente, o Campeonato Brasileiro de 1986 (chamado de Copa Brasil).

O Campeonato de 1986

Em 1986, a CBF teve a brilhante ideia (aprovada pela maioria das federações estaduais desse país) de organizar um graaaaaande campeonato, no qual participariam vááááááários times de futebol, coisa de uns 100, e dos quais seriam selecionados os 32 melhores, que disputariam o que seria, na realidade, o Campeonato da Série A. Claro que deu merda.

Vasco da Gama não entrou entre esses 32 (na verdade, ele estava em um grupo de 11, onde se classificavam 6, e ficou na rabeira: incompetência pura!), entrou na justiça, pediu vaga, a CBF acabou cedendo e criando um campeonato com, se não me engano, 35 ou 36 clubes... gerou vários desconfortos, até porque ameaçou de retirar a Portuguesa - que nada tinha a ver com o peixe - para colocar o Vasco. No fim, inchou o campeonato com a inclusão do Vasco e mais outros três, que também não deveriam ter participado.

Isso gerou um desconforto entre os "grandes clubes", pois viram que, se não jogassem bola, corriam o risco de rebaixamento; se aconteceu com o Vasco da Gama (um dos clubes mais favorecidos por arbitragens, arbitrais e viradas de mesa do futebol brasileiro), então poderia acontecer com qualquer um!

Contudo, em meio ao sentimento de medo, havia um outro sentimento, muito mais legítimo, que era o sentimento de necessidade de se organizar: "posso sair daqui, pra me organizar, posso sair daqui, pra desorganizar". E foi assim que nasceu o Clube dos 13. Falemos disso com mais detalhes.

O Nascimento do Clube dos 13

Sabendo que eram os detentores de poderio econômico, geração de receita e interesses por parte das emissoras de TV, os clubes mais ricos do país organizaram-se no Clube dos 13. Tal clube tinha por finalidade a arrecadação de grana, através de contratos de transmissão de jogos e de patrocínio. Esse dinheiro seria utilizado para financiar os clubes e um novo campeonato, só deles, daqueles 13, e então esse campeonato seria a Série A do Campeonato Brasileiro. Sem CBF, sem rebaixamento e acesso, sem mérito esportivo. Simples assim. Ainda bem que deu merda.

Como no ano de 1986 não havia previsão de rebaixamento (como aliás não houve em váááárias edições do Campeonato Brasileiro até então), todos os 32 (trinta e seis?) times do campeonato anterior tinham o direito de participar da edição de 1987. Daí, criaram-se os módulos verde e amarelo, cada um com 16 times (o C13 "aceitou" três outros times, financeiramente insignificantes, para fazer parte de seu grupo). Portanto, é mentira dizer que o módulo amarelo era a segunda divisão. Aliás, o vice-campeão de 86 (Guarani-SP) e o quinto colocado daquele mesmo ano (América-RJ) estavam no módulo amarelo. Claro, não são "times grandes", mas possuíam mérito para integrar a primeira divisão, e assim o fizeram.

No fim das contas, o campeão e o vice do móldulo verde (Flamengo e Internacional) recusaram-se a cumprir o regulamento, e não enfrentaram Sport e Guarani no quadrangular final. Declararam-se campeões, e pronto.  Sport e Guarani fizeram a final (venceram os confrontos prévios por WO), foram declarados campeão e vice pelo confronto direto, e foram os representantes brasileiros na Libertadores do ano seguinte. Agora, pense bem: o Módulo Verde era justamente aquele formado pelos times do C13, associados à Rede Bobo e à Coca Cola... detinham o poderio financeiro, os contratos, etc e tal. Assim sendo, quem vocês acham que a Rede Bobo "reconhece" como campeão de 1987? Dou um galvão bueno para quem adivinhar...

Acontece que a Rede Bobo não tem de reconhecer ou deixar de reconhecer nada. Ela não é nada além de uma transmissora de eventos, um canal de TV. A coisa toda foi parar na justiça, que reconheceu o Sport como campeão de 1987, e fim de papo.

Ou não?

Velhos Ventos, Ventos de Mudança

O mundo continuou girando, a URSS acabou, o Brasil ganhou o tetra e o penta, Ronaldinho iniciou e encerrou sua carreira miraculosa no futebol, surgiu a Copa do Brasil, o Brasileirão mudou de várias e várias fórmulas até chegar aos pontos corridos, muita gente nasceu, muita gente morreu, FHC governou, Lula governou... Senna morreu... surgiu a internet, o orkut e a Paris Hilton... o Iron Maiden continua na ativa... e estamos em 2011.

E, novamente, sem mérito esportivo algum, os "grandes clubes" querem bagunçar o coreto, em uma manobra para manter os direitos dos jogos com a Rede Bobo, negando a todos o direito de acesso à informação, a seguir seu time do coração, ao embate justo e aberto. Explico.

A partir de 2012, prevalecerá um novo contrato de transmissão dos jogos do Brasileirão, contrato este que está em licitação. Temos emissoras interessadas em adquirir esses direitos (eu nunca entendi o porque da necessidade de uma exclusividade, mas enfim...). O C13, desde sempre, negocia tais cotas, e muitos clubes antecipam essas cotas, apresentando endividamento com o C13. Ele é, puramente, um balcão de negócios, sem qualquer viés esportivo/meritocrático. Porém, pelo que anda acontecendo, a Rede Bobo deve perder poder, e inclusive a licitação. O que ocorre é que o C13 só pode negociar contratos de seus filiados (é como um advogado, com a procuração de algumas empresas: ele só negocia em nome delas se detiver a procuração). Como a Rede Bobo, de boba, não tem nada, ela já faz pressão em cima dos clubes, a fim de fazê-los sair do C13, esvaziando o contrato licitado por ele, e favorecer a criação de uma "liga de clubes", um outro campeonato, de direitos exclusivos da Rede Bobo, claro.

A CBF, que só quer saber de ganhar grana, espera que os clubes se comportem e que tudo transcorra na mais perfeita paz, e por isso andou distribuindo títulos e mais títulos recentemente, atrevendo-se a definir até mesmo o valor daquilo que ocorreu antes dela, como a Taça Brasil e a Taça Roberto Gomes Pedrosa, tudo para alegrar os times, mantê-los do devido lugar, e permitir que a grana chegue logo. Por isso, alguns dias atrás, a CBF reconheceu o Flamengo como campeão de 1987, que era o que ele queria. Com isso, esperava que o Flamengo permanecesse no C13, que tudo permanecesse na mesma, que alguém ganhasse o contrato de transmissão dos jogos dos times filiados ao C13, e que ela, a CBF, continuasse sentada em cima da grana, como sempre esteve. Por bem ou por mal, deu merda.

Flamengo, Botafogo, Fluminense e Vasco saíram fora do C13. Corinthians, idem, e aliás foi o primeiro a anunciar sua saída. Pretendem negociar seus direitos "individualmente". Balela, vão assinar pela Rede Bobo, que já pressionou, e muito, para que a CBF virasse a mesa em favor deles todos - o Fluminense ainda nos deve uma disputa de Série B, e outra da Séria C, pois cai e é resgatado, sendo até mesmo catapultado da terceirona para a primeira divisão.

E, assim, os ventos de 1987 voltam a soprar em 2011, comprometendo novamente a idoneidade do Campeonato Brasileiro, e subordinando o mérito, o jogo dentro de campo, as campanhas dos times, às vontades de uns poucos, que nem devem gostar de futebol, mas sim do doce ervanário que dele emana.

Não digo que a CBF seja um convento imaculado. Tem podreira, sim, e era um descomando total em 1987, bem como o é hoje, com Copa do Mundo, estádios atasados, COL, times sem datas para as competições as quais tem direito de participar... Tem de se reformular, tem de poder, um time, disputar Copa do Brasil e Libertadores no mesmo ano (e se possível, até mesmo uma Sulamericana). Mas tem de ser feito com mérito, com justiça, seguindo os regulamentos e dentro de campo. E não na base do "eu tenho grana, eu decido".

E.

P.S.: Vejo muita gente falar do "grandioso título do Flamengo de 87...", mas saibam que o melhor time do Módulo Verde naquele ano foi o Atlético-MG, campeão dos dois turnos de sua chave, o que então "permitiu" ao Flamengo, vice no returno da chave do Atlético-MG, com 10 pontos, seguir adiante. Na minha opinião,  o Atlético-MG deveria passar direto para a final, e esperar o confronto entre os campeões do turno e do returno da outra chave (Cruzeiro x Internacional) , ou então deveria ser escolhido o segundo lugar geral (somando-se os pontos dos clubes nos dois turnos da chave do Altético-MG, o que daria a vaga ao Grêmio), ou então ao melhor segundo colocado dentre os dois turnos dessa chave (o que também daria a vaga ao Grêmio). Porém, "decidiu-se" dar a vaga ao Flamengo, time de grande torcida e queridinho da Rede Bobo. Então, meus amigos, funciona assim: quando você monta um campeonato sem o lastro do mérito esportivo, não importa quem seja o melhor time, e sim quem rende mais grana. Fica a dica.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

11º Quero Jogar RPG BH... e o Futuro.

O evento rolou anteontem, na Black Dog, com casa empanturrada de gente... cerca de 80 pessoas ao todo, com gente jogando até mesmo no chão, pois não havia mais mesas... e olha que duas mesas programadas não ocorreram!

Isso nos deixa confortáveis com a perspectiva de se realizar um evento mensal de RPG aqui em nossa Beozonte, e isso é importante de se saber por agora, quando estamos a um mês de comemorar 1 ano do evento, que é gratuito, aberto a todos os sistemas de RPG, aos jogos de tabuleiro, minis, cards e/ou dados. Heh, nem sei se há precisão no nome "Quero Jogar RPG", pois o povo tem jogado RPG e muito mais... e isso é ótimo!


Uma coisa, contudo, ainda incomoda a minha pessoa: o povo que ia na UFMG não aparece na Black Dog. E, agora, com aquele espaço realmente lotado, nem seria bom se eles aparecessem... nada contra, mas ia ficar um sentimento de 2215 A pela manhã que não faz bem a ninguém. Hã? Você não conhece o 2215? Uai, não seja por isso!



Vista de Fora                                     -                                  Vista de Dentro





É, meus amigos... ônibus lotado... e olha que tem A, B, C, D... e só vive assim!

Enfim, não queremos lotar ainda mais o 2215, quer dizer, a Black Dog... então, podemos começar a repensar os eventos na UFMG. Isso quer dizer que eu vou repensar esses eventos, e tentar (TENTAR!) voltar com os eventos pra lá. Não depende só de mim, depende dos administradores da UFMG (mais precisamente, do ICB) terem o interesse em sediar o evento. Mas tentarei, sim. Podem ter certeza.

Hã? E o evento? Ah, o evento foi ótimo. Tio nitro tem umas fotos no blog dele, que não me deixam mentir. Agora, falemos d'O Futuro

O Futuro

Então, nesse último evento, acendeu-se a chama da esperança, no que tange a realização de uma convenção de RPG em Beozonte... é, meus amigos... se isso ocorrer, BH corre o seríssimo risco de deixar de ser o Túmulo do RPG no Brasil.

A princípio, o evento ocorrerá em novembro, entre os dias 12 e 15. Estamos analisando as coisas, vendo o que é que pode ser colocado nesse evento, a quantidade de público esperada, etc. Então, por enquanto, apenas saibam que no final do ano, "algo de muito bom vai acontecer", como dizia o WL no Atlético-MG. Mas, no nosso caso, como estamos focalizados no evento, as chances são melhores.

Então, participem do evento do mês que vem, dos próximos eventos ao longo do ano, e se preparem para o final do ano... vão juntando as moedinhas... teremos convenção de RPG no final do ano em BH.

Ou não.

E.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Cruzeiro 5 x 0 Estudiantes





Então, eu sou fã do Mário Alberto, mas dessa vez, ele se superou com essa charge aí! Quem quiser ver mais, é só visitar o blog dele.

Pois é, foi ontem, na Arena do Jacaré, para um público de pouco mais de 11.000 pessoas. Pouca gente, mas com ingresso a 50 conto, lá em Sete Lagoas, às 22hs, e com jogo sendo transmitido pela Rede Bobo de Televisão, difícil de se ter algo diferente disso. Desafio qualquer clube de MG a superar tal público, dentro desse contexto.


O jogo foi ótimo, o placar não faz justiça ao que foi a partida (realmente equilibrada, especialmente no primeiro tempo), deu muito certo mover o Gilberto para a lateral e deixar o Roger no meio, isso para não falar do Walysson no ataque. Agora, quando o Diego Renan entrou na lateral, Roger logo teve de sair, pois aquele lateral não protege a defesa tão bem quanto o Gilberto, e o Roger não é de voltar para ajudar na marcação, então fica uma avenida (praça de esportes?) do lado esquerdo da defesa celeste. Tem gente que pensa que é só retirar o Gilberto do meio de campo e colocar o Roger, mas infelizmente berimbau não é gaita. Que o Roger ataca melhor, é indiscutível, mas o Gilberto reforça o meio de campo e a defesa muito mais, especialmente quando o lateral esquerdo é o Diego Renan, que é ótimo quando ataca, e medíocre quando defende. E aí, como fica? Fica como ficou ontem, uai.

Agora, mudando de pau pra cacete, ô juizinho, viu... pelo menos, no lance em que o Cruzeiro pediu pênalti, ele acertou em não marcar. Mas nas faltas, quanta conivência. Só perdeu para esse aqui, ó:


Enfim, tá de boa. Ganhamos o jogo, vamos em frente na Libertadores. O ano, para nós, começou ontem, e começou muito bem :)

E.

domingo, fevereiro 13, 2011

Cruzeiro 3 x 4 Atlético-MG

É, foi ontem, na Arena do Jacaré, com torcida única e tudo. Não vou entrar em detalhes quanto aos custos de se assistir a um jogo por lá (do ingresso a 40 conto, ao tropeiro maiado de 10 reais), pois já passei por essa experiência uma vez, e não estou realmente animado de o refazer, exceto que tais custos sejam reduzidos. Vamos falar do jogo, pois sim?

O Cruzeiro entrou mais disperso que o Atlético-MG, e por isso perdeu o jogo.

E.

domingo, fevereiro 06, 2011

Dois Anos, Mil Visitas

Foi dia 22 de janeiro passado, pouco mais de duas semanas atrás. O blog fez dois anos de existência, e isso passou em branco, pois nessa época, bem, eu estava ocupado com umas coisas aqui em casa, e todo o povo daqui voltara de férias no dia 21, então as coisas estavam meio agitadas. Passado (um pouco) desse sufoco, resolvi escrever um pouco sobre esses dois anos.

Quando eu criei meu blog, minha primeira e única preocupação era não deixá-lo às moscas. Não me preocupam tanto as opiniões acerca dele, as poucas visitas (falarei mais sobre isso adiante) e nem mesmo o fato de ele ser realmente mal diagramado. Fora a minha mania de escrever textos realmente extensos. Mas, sim, me incomodava a possibilidade de deixar, outra vez, uma iniciativa online abandonada. Foi assim quando eu tinha um site no vilaBOL, outra vez quando fiz um site com alguns amigos, enfim, seria uma terceira vez, sem muita novidade, e posso dizer que não achava que realmente seria diferente. Por isso eu demorei tanto a ter um blog. Acreditem, muita gente me ouvia comentar determinadas coisas (sobre RPG e Geologia, principalmente) e me diziam "cara, abra um blog!". Então eu o abri.

Apesar de tê-lo feito em janeiro de 2009, só tenho estatísticas de acesso de junho de 2010 para cá. Ao todo, até hoje, foram pouco mais de mil visitas. Sim, dois anos, mil acessos... 500 acessos por ano, pouco mais de 1 por dia. Talvez seja um pouco mais, uma vez que a estatística só contempla os últimos 8 meses. Aí, a média fica mais bonita: 240 dias, 1000 acessos: mais de 4 por dia. Para um blog amador, nada mal...

A página mais acessada, com 27 visualizações, foi a primeira parte sobre o "Mito do Balanceamento de Classes". Em segundo lugar, 26 visitas, a página sobre o "Primeiro D&D Game Day 2009". É interessante que a ferramenta contabilize visitas apenas a partir de meados de 2010, e a segunda página mais visitada seja de 2009. Será que as pessoas tem procurado o conteúdo pretérito do blog?

A maior fonte de acesso ao meu blog é site do Valhalla RPG, que contribuiu com 46 visitas, e o segundo colocado, ahn, é um site sobre tatuagens, que contribuiu com 31 visitas. Não me perguntem, eu não sei nada sobre eles. Em terceiro lugar, com 15 cliques, veio o portal da Lista Lúdica.

Nesses dois anos, eu escrevi 65 artigos no blog, sem contar este. Foram 31 em 2009, 32 em 2010 e apenas dois nesse início de 2011. Isso quer dizer que, se o blog não é dos mais atualizados, ao menos não está às moscas, com atualizações a cada 15 dias, o que, para mim, é até razoável. Gostaria de poder atualizá-lo uma vez por semana, mas, sinceramente, não tenho muito a escrever além do que já exponho aqui. Eu estaria, realmente, enchendo linguiça.

Sobre a quantidade de acessos, eu realmente não me importo com o valor em si, importa-me, sim, que o blog seja acessado por alguém (uma ou mil pessoas, tanto faz), e que, por vezes, seja até mesmo comentado. Não posso reclamar dos poucos comentários que recebo (e eu ainda tenho de responder aos três últimos, eu sei...) pois muito pior seria se eu recebesse 10 comentários sobre um texto, e não tivesse como responder a todos. Imagine só, se eu tivesse 10 comentários e levasse 10 meses para responder? Seria frustrante, para todos nós.

Além disso, gostaria de dizer uma palavra aos 15 seguidores do meu blog: nhé.

:P

Não, agora sério: agradeço, e muito, a existência de todos vocês. É importante saber que há quem se importe com o que eu escrevo, que me acompanha, e que, às vezes, tira até um momento para comentar. Nisso, em especial, eu agradeço ao João, que não apenas vem organizando os eventos de RPG que eu não tenho mais como organizar (o cara roubou até minha "event aura"!), mas ainda tem a preciosa paciência de ler e comentar minhas turrices contra a 4.0D&D. Sério mesmo, sou muito grato a ele, bem como ao Igor, que tem mais eventos de RPG que eu nas costas, e ao Kender, que tá aí para dar toda a força possível a nós todos, até mesmo organizando eventos de Magic nesse começo de 2011.

Enfim, o ano promete. Teremos muito mais RPG em BH, eu me formo em Geologia no meio do ano, e não faltará assunto futebolístico com o Cruzeiro mirando tudo, o Atlético-MG com tanta grana para gastar, e o nosso querido América-MG na primeira divisão. O ano promete!

E.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

O Mito do Balanceamento de Classes - Parte 2

No capítulo anterior, falamos sobre a necessidade de haver bom senso e espírito de equipe, muito antes de balanceamento de classes, para que o jogo seja divertido para todos e todas. Você pode até ter um personagem canivete suíço, mas não é por isso que vai jogar fora o abridor de latas, o saca rolha e a faca de mesa.

Nesta oportunidade, falaremos de outra coisa: o reducionismo inerente ao balanceamento de classes presente na 4.0D&D. Lembrando, sempre, que eu estou escrevendo tendo por referência as edições mais variadas de (A)D&D.

Eu Quero, Eu Posso, Eu Vou

É interessante, em se tratando do "desequilíbrio de classes" das edições 2 e 3 de D&D, que nunca ninguém reclama de como o mago é mais poderoso que o clérigo, ou de como o druida é mais poderoso que o mago. O desequilíbrio é, sempre, entre uma classe  conjuradora e uma não conjuradora. Claro, há nuances e pontos de desequilíbrio entre as classes conjuradoras, mas tais aspectos parecem ser mínimos. Talvez, sejam ofuscados pelo "desequilíbrio maior", e por isso ninguém fale neles.

De fato, os conjuradores são mais poderosos que os não conjuradores. Mas isso não tem associação com o número de dados de dano causados pelos poderes mágicos, mas sim porque, em relação aos não conjuradores, há opções em demasia para os conjuradores.

Peguemos um exemplo básico: o grupo de personagens tem de transpor um muro. O guerreiro prepara os pítons e equipamento de escalada, o ladino se prepara para testar sua perícia de escalada... e eles sobem. Conjuradores, por sua vez, além dessa alternativa, podem: voar, levitar, teletransportar, abrir um buraco no muro, enfim, transpor o obstáculo de variadas maneiras. E está aí a raiz do problema: alguns tem poderes que resolvem uma gama de desafios, enquanto outros não tem realmente nada. Conjuradores podem tudo; não conjuradores podem pouco.

Similarmente, os objetivos das classes de personagens são distribuídos de forma iníqua. O que é que um guerreiro quer? Equipamento mágico de combate, moedas e... ahm... um amigo clérigo para, com suas magias de cura, dar aquela força com os pontos de vida. Um ladino? Idem acima, mais a chance de atacar pelas costas. E os conjuradores? Ah, os conjuradores querem muito mais: o mago quer pergaminhos e livros de magias, oportunidade de criar itens e de pesquisar magias, poder conjurar um familiar, etc. Um clérigo e um druida, similarmente, querem levar o etos adiante, apaziguar a relação das pessoas com os deuses/natureza, atrair e liderar seguidores fiéis à sua crença, etc. As classes conjuradoras tem muito mais propósitos que as classes não conjuradoras, e isso se reflete em suas possibilidades diante do mundo de fantasia.

Por fim, qual é a chance de cada um ter sucesso? Oras, depende: tem um mago no grupo? Vai para adiante o grupo que tem mago e clérigo/druida. Outros grupos podem ter sucesso, mas tal grupo seria muito melhor sucedido se tivesse conjuradores. O que é que isso quer dizer? Que os conjuradores estão indo para algum lugar melhor, e que os não conjuradores são, grosseiramente, um peso morto.

Resumindo: uns podem, querem, e vão. Os outros, bem, eles estão ali, caso você precise deles.

Matando a Solução, Glorificando o Problema

Fica  claro para quem quiser ver que, nas edições 2 e 3 de D&D, o problema não era o poder dos que tinham mais, e sim a carência dos que tinham menos. Porém, a solução adotada foi a seguinte: reduzem-se todas as alternativas de todas as classes, de modo que todas elas tenham tantas alternativas quanto aquela que tiver menos alternativas. Ao invés de dar asas às tartarugas, você meteu o casco nas costas dos cisnes. É uma perspectiva reducionista - e até certo ponto, preguiçosa - para se resolver o problema, mas é inegável que o equilíbrio é obtido: se ninguém mais tem alternativas, não tem desequilíbrio. Mantém-se o conceito de se fazer escolhas, e retira-se o conceito de liberdade: você tem um guerreiro que ataca, um guerreiro que defende, um guerreiro que lidera e... um outro guerreiro que eu me esqueci agora. Só que, ao invés de chamar o jogo de "Guerreiros & Mais Guerreiros", você chama de "Dungeons & Dragons". Ao invés de falar infantaria, cavalaria, arqueiros e etc, você fala guerreiro, clérigo, mago, etc. Você retira a solução, aquilo que movimentava todas as classes, seus objetivos, suas nuances, seu algo mais, e põe... estritamente nada no lugar.

Ufa. Essa ideia ficou tão bem exposta que eu vou encerrar essa seção do texto por aqui. Falemos, portanto, da brincadeira de "Precisa, Não Precisa".

Brincando de "Precisa, Não Precisa"

Essa é uma brincadeira comum aos trolls do meu cenário. Como um troll se regenera, ele pode perder partes do corpo e recuperá-las. Os trolls, no entanto, sabem que determinadas partes de seus corpos não se regeneram... daí, eles precisam dessas partes, intactas. A ideia é que, para cada troll, há uma parte diferente, que só ele conhece. Então, dois (ou mais) deles se sentam, e um deles começa escolhendo uma parte do corpo do outro. Por exemplo, ele aponta para um dos olhos do troll. Este então diz se precisa, ou não precisa do olho. Se ele disser que não precisa, o outro troll arranca o olho dele, e é a vez do troll caolho de escolher uma parte do corpo do outro troll. Ganha aquele que descobrir qual é a parte do corpo do outro troll da qual ele realmente precisa. Acredite, eles adoram esse jogo!

Infelizmente, quando se trata de jogos de RPG, é triste ficar brincando de "precisa, não precisa"! Especialmente, quando o sistema de regras DETERMINA que seu grupo precisa disso, disso, disso, e daquilo outro. Noves fora os acessórios que são obrigatórios aos jogos de 4.0D&D, o grupo que se pretenda bem sucedido nesse sistema de regras tem de ter um defender, um leader, um controller (lembrei, é controller!) e mais alguma coisa. Um grupo de 5 leaders? Desista, está fadado ao fracasso. Um grupo de 5 strikers? Tchau e bença, é caixão e vela preta.

Não estou dizendo que, em edições anteriores, era tão fácil assim jogar com um grupo de 5 magos, ou de outras 5 classes iguais.. mas era possível, plenamente possível, desde que as aventuras fossem compostas por algo mais (muito mais!) que encontros de combate e desafios de perícias. O que nos leva ao próximo assunto...

Combate & Combatentes

Deu no New York Times: o combate é a parte central do D&D. Para quem não sabe, é sim. Sério!

Porém, ele não é tudo. É feito o dinheiro... dinheiro não é tudo, mas é 100%. Tem de ter dinheiro, mas é ainda mais importante ter o quê fazer com esse dinheiro. Combates são parte intrínseca do D&D, mas eles não são um fim em si mesmos (ou, ao menos, não deveriam ser). Eles são passos, duros passos, para se chegar a um objetivo. Porém, na quarta edição, os combates são um fim em si mesmos. Afinal de contas, TODOS os poderes dos personagens são voltados para o combate e, pior ainda, só podem ser utilizados em situações de combate. Ou onde mais você pode forçar uma pessoa a "mudar de quadrado"? Dentro do ônibus lotado, talvez... e aquilo ali é um combate duro!

Quem já jogou 4.0D&D sabe: é tudo sobre o combate. Das descrições dos seus poderes e perícias na ficha, até na hora em que aparece o tabuleiro. A mecânica é toda tão bem trabalhada (e complexa) nessa edição, que os combates nas edições anteriores empalidecem. É ponto de ação, ação dimenor, ação de interrupção... antes, era eu movo-eu ataco-eu passo a vez. Porém, antes, havia muito mais que o combate. Sério!

Bom, talvez, nem tanto.

Mas estava lá. Seu personagem (conjurador) podia fazer magia quando quisesse (e, por favor, não me venham com os rituais, ok?). Quer levitar fora do conbate/encontro? Concedido! Quer lançar uma bola de fogo na floresta? Concedido! Quer conjurar uma criatura extraplanar? Concedido! Não precisa estar num encontro... é só estar apto a conjurar magias. Até mesmo outras classes podiam utilizar itens mágicos que emulassem tais efeiros quando quisessem, desde que fossem permitidos à sua classe.

E, Então, Seu Vovô Chato, Qual Seria a Solução?

Fica muito paia descer a lenha em alguma coisa, repetidas vezes, e não propor uma alternativa, né? Bom, para o combate em si, não creio que haja uma solução. O combate tem de ser desequilibrado, porque existem classes de personagens que se preparam melhor para ele. Tendo o jogo de RPG evoluído dos war games, e tendo os war games peças diferentes para cada situação de combate, fica claro que o desequilíbrio é inerente. Não se pode esperar que uma unidade de artilharia e outra de cavalaria funcionem da mesma forma, pois elas são distintas, cada uma com um foco, um propósito, uma força e uma fraqueza. O que se deve evitar, ao meu ver, são os combates repetidos: oferecer sempre os mesmos problemas e esperar por soluções diferentes é burrice. Nesse aspecto, enfrentar um orc equivale a enfrentar um ogro. Ou um troll. Ou um gigante. São todos o mesmo desafio, o mesmo combate, mudando apenas a quantidade de dados de vida.

Um limitador para conjuradores, desde sempre, é a área de efeito de suas magias, notadamente Bola de Fogo e efeitos de nuvem. Sua extensão pode afetar pessoas inocentes, pode destruir parte do tesouro, pode afetar criatuas conjuradas ou aliados do grupo. A questão de se jogar na ordem correta (isto é, pedindo-se a definição da ação antes de se rolar iniciativa) pode definir o sucesso ou o fracasso de uma magia/efeito.

Mas, no fim das contas, no combate, alguém vai sobressair. E não serão os combatentes. Ou será, se você estiver jogando a quarta edição, pois nela todas as classes são combatentes.

E A Solução?!??!?!

A solução para tudo isso, como sempre, passa por fora dos combates e do que é o lugar comum do D&D. É a caracterização e a valorização dos personagens, do grupo, do jogo em sua plenitude. Juntar tesouros e matar monstros para quê? A coisa toda tem de ter um objetivo. Não pode ser apenas entrar no combate, descarregar os poderes por encontro e tal. Todos os personagens tem de poder mais que isso.

Os conjuradores tem muito mais a fazer. Talvez os não conjuradores também tenham... ou não.

E.

sábado, janeiro 01, 2011

O Mito do Balanceamento de Classes - Parte 1

Hoje, primeiro de janeiro de 2011, eu gostaria de escrever sobre algo interessante. Ao invés disso, falarei sobre o mito do equilíbrio de classes de personagens nos sistemas de RPG, especialmente focalizando nas versões de (A)D&D.

Como É Hoje

Nâo é segredo para ninguém que o grande trunfo da 4.0D&D foi estabelecer um sistema onde as classes de personagens são extremamente balanceadas, ao menos tendo como padrão as versões anteriores do sistema de RPG da TSR. Esse equilíbrio foi mantido, grosso modo, da segiunte forma: homogeinizam-se todas as classes, de modo que todas funcionem da mesma forma, e então "loteiam-se" poderes, de modo que cada um tenha um tipo de ataque/defesa/auxílio. Isso faz com que um personagem cujo foco é a defesa não pise nos calos daqueles que são atacantes, e vice-versa. É uma equalização matemática: se o seu personagem tem a melhor defesa, ele certamente não terá o melhor ataque. Se seu personagem só tem como vantagem os poderes de auxílio, certamente ninguém os terá melhor que ele.

Deixemos de lado a questão das erratas e similares. Aceitemos que a quarta edição de D&D realmente atingiu esse objetivo como nenhuma outra versão do sistema anteriormente havia obtido.

E, agora, veremos por que isso não vale, estritamente, merda nenhuma.

Cooperação, Cooperação, Cooperação

Um jogo de RPG, tipicamente, é aquele no qual um grupo de jogadores interpreta personagens que, ao longo de uma ou mais sessões de jogo, trabalham coletivamente em busca de um objetivo individual ou coletivo. Esse grupo tende a ser diversificado, pois o "vilão" do jogo (um inimigo poderoso, uma rede de intrigas, uma masmorra repleta de armadilhas, etc) é alguém ou alguma coisa que pode possuir uma única ou várias fraquezas/pontos cegos/limitações, e quanto mais diversificados os indivíduos no grupo, maiores as chances de surgir uma alternativa, por parte de um ou vários personagens, que permita vencer o "vilão" onde ele é mais fraco. Em suma, se você parte rumo ao desconhecido, é melhor levar pessoas de capacidades e conhecimentos variados.

Esse ponto é aplicável não apenas aos jogos de RPG, mas a várias mídias que tem por tema a "fantasia heroica". É assim nos quadrinhos, como na Liga da Justiça, em Watchmen ou nos X-Men: você tem o Super-Homem e o Professor Xavier, assim como o Batman e o Wolwerine, ou o Comediante e o Dr. Manhattan. É assim nos filmes do Shrek, do Toy Story, Piratas do Caribe, Mercenários, etc. É assim nos seriados norteamericanos, como House, CSI, Seinfeld, etc. É assim nos jogos de computador/videogame/arcades, desde clássicos como Captain Commando, Cadillac Dinossaurs, até em jogos atuais, como World of Warcraft e... bem, todo o resto. Todos eles tem times com indivíduos tão diferentes, quanto únicos. Todos eles são desbalanceados quando se compara o poder de um indivíduo com o do outro, chegando a extremos realmente absurdos, mas que parecem coexistir - e coexistem - de forma harmoniosa e pacifica.

O segredo por detrás disso é a cooperação. Não é interessante a nenhum dos grupos citados (ou aos roteiros que narram os eventos nos quais eles se envolvem) que uma unica pessoa (ou ogro) resolva tudo, sempre, das mais variadas maneiras. Exige-se que todos participem, ou melhor, que todos tenham a oportunidade de participar. E aí entra um outro aspecto: o de saber ficar no seu lugar.

Saber Ficar No Seu Lugar

Todos os episódios de House (ou boa parte deles) poderiam simplesmente consistir no seguinte: o paciente chega, o médico pensa na ideia mais esdrúxula possível, o paciente é curado (o restante dos episódios se encerraria com o Dr. Wilson - Watson - fazendo comentários aleatórios que contivessem a ideia esdrúxula implícita, tal como um cavalo de Troia). Da mesma forma, o Shrek do primeiro filme poderia simplesmente aceitar que ele não tem a posse do pântano, aceitar também que aqueles que ali estavam tinham tanto direito a ali estar quanto ele, mandar o príncipe tampinha às favas, seguir sendo o ogro do pântano e fim de papo. Não é muito divertido, né?

A maioria dos "astros principais" da fantasia heroica necessita de um contraponto, uma referência. De nada adianta ser o médico mais inteligente se os médicos "normais" não tem vez quando você se aproxima. De nada adianta ser um ogro, se você não tiver um burro ao seu lado - ei, vocês entenderam. Se o personagem mais forte da trama simplesmente decide fazer tudo, ora veja, a própria trama perde o sentido. Não é que ele não possa fazer tudo, é só que, bem, não é essa a ideia.

Existem sim seriados/filmes/jogos/quadrinhos nos quais um único herói resolve tudo, mas essa não é a ideia por detrás do RPG tradicional. A ideia fundamental é a de uma equipe. Você até pode ter como realizar tudo sozinho, mas o jogo perde a graça para todo o resto do grupo. E daí, de que adianta jogar assim? Vez ou outra, pode até vir a acontecer de um personagem ser o único capaz de salvar o dia, mas isso não deve ocorrer sempre, e usualmente não será o mesmo personagem a salvar o dia. Se é o que acontece, então talvez as próprias aventuras mereçam um olhar mais aprofundado. Por que é que sempre o mesmo personagem tem melhores opções? Por que esse personagem sempre pode resolver o que lhe é proposto? Por que tudo depende dele e, principalmente, como é que fica se o personagem não puder interferir em um dado problema? Se o jogador daquele personagem faltar, como fica?

Saber respeitar os limites de cada um é, também, tão importante quanto realizar bem o seu papel. E daí que seu personagem pode ter mais opções, suplantando algumas funções dos outros personagens do grupo? Em uma aventura solo, isso pode vir a calhar... mas em um grupo, você está simplesmente arruinando a diversão alheia, sem conseguir nenhum resultado concreto para si, ou para o grupo. Ou, ao menos, não um resultado que seria diferente se o jogador do "personagem suplantado" tivesse participado da resolução. Lembre-se, ele também está presente no encontro e exposto aos riscos, então o XP é dividido com ele também.

Por Fim, Uma Questão de Estilo e Inteligência

Quando uma classe de personagens pode suplantar a outra, geralmente isso significa fazê-lo temporariamente, ou em detrimento a alguma outra coisa. Um ótimo exemplo é "pra que é que eu vou querer um guerreiro, se o mago pode conjurar uma criatura até mais forte que um guerreiro, e fazê-la lutar por ele?". Em termos de mecânica, desbalanceamento, etc essa afirmativa faz todo o sentido do mundo... exceto se você pensar que, para poder emular um guerreiro, o mago agiu em detrimento de seus próprios poderes. Sendo ele realmente um personagem que pode fazer qualquer coisa, gastar uma magia para convocar uma criatura que lute no lugar do guerreiro é deprimente. No limite do razoável, esse mago contrataria alguém, um mercenário, e ele seria o guerreiro, desobrigando o mago de preparar magias que substituíssem o guerreiro, e podendo então se concentrar em preparar as magias com efeitos que realmente só ele pode fazer, como teleportação, inverter a gravidade, vôo em massa e similares.

De fato, analisado de maneira puramente mecânica, um guerreiro no grupo é uma magia de "Convocar Criaturas" que trouxe um animal com atributos elevados, muitos itens mágicos, que tem fidelidade ao grupo e é permanente. Não existe criatura que a substitua, não a longo prazo e o tempo todo. É, portanto, uma questão de inteligência se preocupar com outras coisas. Da mesma forma, um ladino é uma varinha de detectar armadilhas, portas secretas e similares, com uma quantidade infinita de cargas, permanente, e que pode carregar muitos itens mágicos (mais do que deveria, às vezes). Novamente, não é inteligente preparar magias para emular isso ou aquilo. O mago (ou druida, clérigo, feiticeiro...) do grupo pode até preparar magias de convocação de monstros e localização de armadilhas, mas ele o fará puramente por desencargo de consciência, para um momento de extrema necessidade, ou por burrice mesmo. Por outro lado, um conjurador que tenha de preencher essa lacuna no grupo preparará tal magia como algo crucial, talvez a conjuração mais importante em cada encontro... se ele perder a iniciativa ou falhar em um teste de resistência, talvez suas chances de sair vivo daquele encontro caiam drasticamente.

Além do fator inteligência, há o fator "estilo". De que adianta conseguir aquela preciosa magia de terceiro círculo se você já sabe, desde muito antes, que será "apenas mais uma magia de conjurar monstros"? Cadê a Flecha de Chamas, a Velocidade, o Relâmpago e o Dissipar Magia? Um mago que tenha por função (ou preocupação principal) demonstrar a inutilidade dos guerreiros frente aos seus poderes pode ser substituído por um singelo transeunte com uma "cartola de conjurar coelhos brancos". Basta que esse transeunte tenha uma magia de "atrocizar coelhos brancos da cartola de conjurar coelhos brancos"; ou quem sabe um "aumentar criatura". Sério, quem respeitaria um mago que só faz "conjurar monstros"? Nem o circo tem tantos mais desses caras...

Concluindo

Quando eu jogava Street Fighter, eu jogava com a Shun Li. Quando eu jogava Fatal Fury, eu jogava com a Mai Shiranui. Quando eu jogava Darkstalkers, eu jogava com a Morrigan. Quando eu jogava Captan Commando, eu jogava com o Ginzu The Ninja.  Quando eu jogava D&D: Tower of Doom, eu jogava com a elfa. Percebeu um padrão aí? Eu fazia escolhas abaixo do ótimo, porque é o meu estilo de jogo: ver um personagem não tão predestinado ao sucesso vencer obstáculos, um a um. Pouco importava o que ele fazia de fato, o que importava é que ele não era "programado" para ser o astro principal (Ryu, Ken, Cody, Guy, Terry Bogard, todos pertencem à categoria dos "vencedores por definição"). É assim que eu me divirto, e pouco me importa se fulano ou beltrano está jogando comigo (ou contra mim) com um personagem mais forte ou mais fraco. Importa que eu estou fazendo o que eu gosto, ele está fazendo o que ele gosta, cada um respeita as escolhas do outro e é isso.

Então, da próxima vez em que você for jogar um RPG, não pense no equilíbrio entre as classes daquele jogo, e sim no que é que o jogo oferece, e se aquilo está dentro do que você espera, se há uma maneira de construir um personagem com o qual você tenha gosto por jogar. Sempre haverá quem crie um personagem mais forte que o seu. Essas pessoas o fazem porque curtem ter os personagens mais fortes. Curiosamente, diante das habilidades do mestre em proporcionar desafios, isso pouco importa. Via de regra, se ele quer seu personagem morto, é melhor começar a fazer outra ficha, seja ele o mais forte ou o mais fraco.

Mas isso já é assunto para outra hora.

E.

P.S.: Eu prefiro jogar com classes conjuradoras, justamente por conta da versatilidade. Me dá a chance de pensar naquilo que mais ninguém pensa, e só aparecer quando ninguém mais tem uma chance razoável de fazer alguma coisa. É o meu estilo. Te convido a descobrir qual é o teu.